Gabriela Rocha, que estava grávida de 6 meses, recebeu alta médica.
Sogra foi morta por policial, que está preso em São Paulo.
Kleber Tomaz
Do G1 São Paulo
“Ele tem que perder a farda dele”, disse Gabriela Rocha Leite sobre o
policial militar Gilson de Souza Teixeira, que no último dia 22 de março
atirou na barriga da jovem de 18 anos, que estava grávida de seis meses, e na cabeça dela, após discussão envolvendo a disputa de uma casa.
Gabriela foi submetida a uma cesárea de urgência, mas sua bebê morreu
quatro dias depois. O cabo de 31 anos de idade ainda matou a sogra da
moça com três tiros. Gilson está preso em São Paulo.
Justiça. Eu quero muito Justiça”, disse Gabriela sobre Gilson. “Ele
tem que pagar. Ele tem que perder a farda dele. Ele tem que ir para
presídio. Ele tem que sentir tudo o que ele fez"
Gabriela Rocha Leite,
vítima de tentativa de homicídio
A declaração de Gabriela foi dada na última quinta-feira (2) ao
G1, em entrevista realizada na casa de parentes. A jovem foi para lá após ficar cinco dias internada.
Sua sogra, Jurema Cristiane Bezerra da Silva, tinha 39 anos e era
bacharel em direito. Em homenagem a ela, a bebê de Gabriela foi batizada
como ‘Cristiane’, antes de morrer.
Durante a conversa, Gabriela, que não estuda e se dedica ao marido e ao
filho de um ano como dona de casa, chorou ao lembrar o crime cometido
havia 12 dias e dos planos que tinha para a filha. E como geralmente
ocorre com as vítimas de violência, ela, que é a única sobrevivente dos
disparos, também quer “justiça”.
“Justiça. Eu quero muito Justiça”, disse Gabriela sobre Gilson. “Ele
tem que pagar. Ele tem que perder a farda dele. Ele tem que ir para
presídio. Ele tem que sentir tudo o que ele fez”.
Segundo a jovem, o policial agiu com crueldade porque a bala que
acertou sua barriga também atingiu o bebê que esperava. “O que ele fez,
ele tirou a vida de uma neném inocente, que não tinha nada a ver, e de
uma mulher, mãe de família, que só estava procurando o bem para a
família dela”.
Gilson estava de folga, mas armado, quando cometeu o crime numa noite
de domingo na Rua Manuel Lisboa de Moura, na Zona Norte da capital. O
policial e um filho de Jurema, que são vizinhos, discutiam na rua. A
desavença entre o agente e a família da bacharel, que eram amigos de
infância, começou depois que uma irmã do PM invadiu uma residência da
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), também na
Zona Norte.
A casa, no entanto, deveria ter sido entregue pela CDHU a uma sobrinha
de Jurema, que tem um filho com necessidades especiais. Depois disso a
vizinha e seus familiares começaram a ser alvos de ameaças.
Gabriela com o filho de 1 ano. Ela demonstra como
segurou o menino no dia em que o policial militar
Gilson atirou na sua barriga, a fazendo perder a
filha de seis meses que esperava. Ele também
a baleou no rosto (Foto: Kleber Tomaz /G1)
Na noite do dia 22, Jurema saiu com um celular quando ouviu Gilson
discutir com seu filho. Ela resolveu filmar a briga com o telefone,
conforme orientação da Corregedoria da PM. A família dela já havia
registrado boletins de ocorrência das ameaças do policial, mas eles
nunca avançaram porque não havia provas contra o agente.
Com raiva porque Jurema o filmava, Gilson atropelou a mulher, a xingou e
atirou três vezes. Ela foi atingida no peito e morreu antes de chegar
ao hospital. Um dos disparos atingiu o celular dela.
Em seguida, o cabo ainda baleou a nora dela, Gabriela, que estava com o
filho de um ano no colo. “Eu caí para esse lado [esquerdo] e fiquei com
o meu filho de um ano, segurando ele aqui, caída no chão. Aí comecei a
gritar”, disse. “Ele deu mais dois tiros que veio [sic] na minha
direção. Veio por aqui detrás da minha orelha e saiu pelo meu rosto. E
outro pegou na minha barriga”.
A jovem afirmou que só percebeu que havia sido ferida quando viu
sangue. “Eu senti o sangue escorrendo, que eu olhei. Eu coloquei a mão e
senti o buraco [no rosto]”, disse. “Eu estou com uma fratura no
maxilar. Eu vou fazer outra cirurgia”.
Gilson se apresentou no mesmo dia do crime à uma delegacia, onde
confessou a discussão e os disparos. Preso em flagrante por assassinato,
foi levado ao presídio da Polícia Militar (PM), o Romão Gomes, na Zona
Norte da capital. A equipe de reportagem não localizou seu advogado para
comentar o assunto. Ele deverá responder por dois homicídios: de Jurema
e do bebê.
Gabriela contou que ficou aflita logo após o crime porque buscava
informações sobre a bebê que esperava, seu filho de colo e a sogra. “Eu
estava preocupada com a neném. Com o bebê de um ano, que eu não sabia
se tinha atingido ele ou não, com a minha neném, de seis meses, e com a
minha sogra, com a Jurema Cristiane”.
Bebê
A bebê de Gabriela nasceu na madrugada do dia 26 de março, com 1,4 kg
no Hospital São Luiz Gonzaga. “Me falaram. A médica me falou. Falou que
ela estava no berçário e eu fui ver ela no outro dia à tarde. Quase à
noite porque eu não podia ver ela logo”, disse a jovem, que chorou
quando se lembrou que só pode segurar a filha nos braços quando a neném
morreu. “Eu só rezava para ela ficar bem. Só isso que eu queria. Mas ela
não resistiu”.
Gabriela soube da morte da criança horas depois. “Eu tinha ido para a
Santa Casa para fazer um tomografia, justamente porque eu tenho que
fazer a cirurgia [no rosto]. Quando eu cheguei, eram 4 horas da manhã,
me chamaram no berçário e falaram que ela tinha falecido às 2h da manhã,
com parada cardíaca”.
A filha que Gabriela esperava era motivo de alegria na família de
Jurema. “Minha sogra estava superfeliz, que era a primeira netinha
dela”, disse. “Porque já tem um bebezinho, um menininho e ia ter uma
menina. Tanto que a minha sogra, esse meu filho de um ano é um xodó
dela, o príncipe dela, e a menininha ia ser a princesa. Mas,
infelizmente, esse cara acabou com tudo”.
Como homenagem a Jurema, Gabriela batizou sua filha com o nome da
sogra. “O nome da minha sogra é Jurema Cristiane. Aí a gente colocou o
nome da neném de Cristiane Sofia. Porque antes de tudo acontecer ia ser
Sofia. Aí como aconteceu, a gente colocou Cristiane porque a gente
chamava ela de Cristiane”.