segunda-feira, 6 de abril de 2015

Imagens mostram mãe agredindo filha em área nobre do Rio


Cenas foram gravadas pelas câmeras de segurança de um prédio comercial na Zona Sul da cidade.


As cenas que você vai ver no vídeo acima, com exclusividade, foram gravadas pelas câmeras de segurança de um prédio comercial, em uma área nobre do Rio de Janeiro. A mãe e a filha, de 13 anos, entram no elevador. Antes mesmo de a porta fechar a mãe dá uma bofetada no rosto da menina. A adolescente não chora, não esboça qualquer reação, apenas ajeita os cabelos diante do espelho. O elevador para no quarto andar. A mãe dá três passos para fora e se vira com violência. A partir daí, começa uma sequência de tapas e puxões de cabelo. A menina chega a ser jogada no chão, só aí são mais 20 segundos de agressões. Quando tudo parece ter voltado a normalidade, a mãe ameaça, a filha se afasta e mesmo assim mais tapas são dados. A mãe ainda tira o sapato e dá um, dois, três golpes na cabeça da filha.

Seguranças do prédio acompanham as imagens em tempo real pelo circuito interno. Vão até o quarto andar e ouvem da mãe: "Não se metam. É assunto de mãe e filha". Eles recuam e vão embora.
O caso envolve uma família de classe média alta. A mãe mora com a filha no Rio, o pai, em outro estado. A adolescente está matriculada em uma das escolas mais caras da cidade. Agora, você deve estar se perguntando: o que provocou tanta agressividade? De acordo com a polícia, a filha chamou a mãe de ridícula. A história chegou até as autoridades depois de uma ligação do Disque Denúncia e foi registrada em uma delegacia, na Zona Sul do Rio. Segundo os investigadores, a mãe disse que cometeu excessos. Esta semana ela foi indiciada por maus-tratos, enquadrada na Lei Maria da Penha, que trata de violência doméstica. Os responsáveis pelo inquérito não quiseram dar entrevistas.
A equipe do Fantástico procurou a mãe da menina. Ela chegou a marcar uma entrevista, mas o advogado dela procurou o Fantástico e pediu para cancelar a gravação.
“Esse pai ou essa mãe que eventualmente atue em excesso, vai estar sujeito na legislação criminal a responder por um crime de maus tratos, de lesões corporais ou violência doméstica. Ou até crime de tortura dependendo do ato praticado. E na infância e juventude ele vai estar sujeito até a perder o poder familiar”, destaca Pedro Henrique Alves, juiz da Vara de Infância e Juventude.
A doutora em psicologia clínica Maria do Carmo Cintra Almeida Prado analisou as imagens a pedido do Fantástico.
Fantástico: A mãe agiu desta forma porque a filha a chamou de ridícula.
Maria do Carmo Cintra Almeida Prado, psicóloga: Ela não teve maturidade para poder lidar com essa observação da filha. Um pai e uma mãe quando é chamado de ridículo tem que pensar: tem fundamento essa observação? Na verdade ele é o adulto. Ele é o grande ali, ele não é o adolescente.
Menino: Eu quero denunciar o meu avô.
Atendente: Certo. E o que está ocorrendo com você?
Menino: Os meus pais estão viajando e me deixou com ele. Aí ele me maltrata muito.
Atendente: Certo, nós podemos ajudar você sim, você pode nos dizer seu nome?
Menino: Vou desligar, meu avô está vindo, tchau!
Esta é uma ligação para o Disque 100, um serviço telefônico criado para denúncias de violação de Direitos Humanos. Todo dia, os atendentes ouvem relatos de violência contra crianças e adolescentes tão fortes quanto o vídeo do início dessa reportagem.
“Logo nos meus primeiros atendimentos eu atendi uma vítima que ela tinha sido espancada, ela tinha sido abusada, ela estava embaixo de uma cama e conseguiu ligar com o dedinho, ela tinha 7 ou 8 anos, e um dos braços não conseguia segurar o outro, ou seja, os braços estavam quebrados. E dava para ouvir alguém batendo na porta. Colhi as informações, conseguimos registrar e a gente viu que foi efetivo o atendimento, a vítima foi assistida. Parece filme sabe? Mas é um filme da vida real”, conta uma atendente que não quis se identificar.
Em apenas três anos, quase 170 mil ligações sobre menores foram feitas para o Disque 100. E a violência física está entre os casos com maior número de pedidos de socorro.
“No caso de criança e adolescente, na dúvida, denuncie. Porque aí nós vamos ter a condição de poder fazer a averiguação em loco, com a mobilização do Conselho Tutelar ou de outra autoridade local”, diz a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti.
A maioria dos casos de violência contra menores acontece dentro de casa. Normalmente as histórias viram segredos de família. Nem todos as crianças e adolescentes têm coragem de denunciar porque temem sofrer mais agressões. Alguns tomam uma decisão difícil e também arriscada: sair de casa.

“Quando eu vi que eu não tava aguentando mais, que não dava para viver ali aí eu peguei e decidi fugir. Dormi no cemitério, porque eu ficava com medo de dormir na rua sozinha e alguém fazer alguma maldade comigo”, conta uma vítima que não quis se identificar.
Doze anos já se passaram desde que ela saiu de casa, mas as lembranças dos maus tratos da mãe ainda estão vivas.
Fantástico: Você apanhava todo dia?
Vítima: Todo dia. Tapa na cara foi muito também. Cabo de vassoura, cinto, o que ela mais fazia era tacar minha cabeça na parede. Agarrava nos meus cabelos, tacava. Quando não me jogava no chão, chutava meu estômago. Meu padrasto me batia também. E ela não fazia nada, ela falava 'bate mais, ela merece'. Isso daí é o que doía mais.
Agora, o desafio da jovem é conseguir a guarda da irmã mais nova. A história se repetiu: a menina também sofria agressões da mãe e fugiu. Na casa da irmã, ela encontrou muito mais do que um abrigo.
“Pra mim eu agora tenho uma mãe. Porque eu considero minha irmã minha mãe. Do jeito dela. Ela assim, ela pega no meu pé, mas ela nunca me bate. É isso que acho que é uma mãe, ela me dá carinho”, diz a irmã da jovem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário