Pais com Marcelo em foto de arquivo da família
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Os avós paternos de Marcelo Pesseghini contrataram neste mês uma
advogada para contestar versão de que o estudante matou quatro
integrantes da própria família e se suicidou em 5 de agosto de 2013 na
Zona Norte de
São Paulo. A família quer a abertura de um novo inquérito do caso.
Sete meses depois, o atual inquérito sobre o caso ainda não foi
concluído e relatado à Justiça, mas para o Departamento de Homicídios e
de Proteção à Pessoa (DHPP) o crime já está esclarecido desde o ano
passado: Marcelo usou a pistola .40 da mãe para executar os pais, que
eram policiais militares, a avó materna e a tia-avó, e depois se matou
com um tiro na cabeça na casa onde moravam.
“É mentira. É lógico que não foi o Marcelinho”, disse a dona de casa
Maria José Uliana Pesseghini, de 62 anos, avó paterna de Marcelo. “Ele
amava a todos e jamais faria isso. Sequer sabia atirar ou dirigir”.
“Querem culpar o menino porque ele não está mais aqui”, completou o avô
do suspeito, o aposentado Luís Pesseghini, de 65, que ainda guarda os
celulares das vítimas. Neles estão gravadas mensagens de carinho entre
Marcelo e a mãe.
Os avós de Marcelo moram em Marília, interior de São Paulo. Em conversa por telefone ao
G1,
na sexta-feira (28), eles confirmaram que a advogada especialista em
perícia Roselle Soglio foi contratada para defender seus interesses
porque acreditam que o verdadeiro assassino está solto.
“A defesa da família Pesseghini contesta a versão da polícia e por isso
vai pedir a abertura de um novo inquérito”, disse Roselle, que trabalha
na capital paulista. “Por mais que a polícia tenha antecipado a
conclusão de que Marcelo matou a família e se matou, não há provas
cabais e técnicas dentro do inquérito que demonstrem ou comprovem isso”.
A advogada declarou que outras pessoas deveriam ser investigadas como
suspeitas do crime. “Um colega da corporação falou à polícia que a mãe
de Marcelo se queixou de ter sido ameaçada e isso não foi investigado a
fundo”, disse Roselle. “Isso sem falar que ela havia perdido as chaves
de casa e alguém pode tê-las encontrado e entrado lá e cometido o
crime”.
Ela contestou também a perícia feita pela Polícia Técnico-Científica.
“A cena do crime pode ter sido mexida antes da chegada dos peritos”,
disse Roselle, que encaminhou ao DHPP um documento com 16
questionamentos sobre o trabalho do Instituto de Criminalística no caso.
“Muitas pessoas que conheciam às vítimas estiveram na casa antes dos
peritos. Quem garante que ninguém modificou o local”.
Foto
da perícia mostra mão esquerda de Marcelo perto de arma. Advogada quer
saber porque há lesões que não foram citadas (Foto: Reprodução)
A advogada quer saber, por exemplo, porque os peritos não relataram nos
laudos lesões visíveis que estão na palma da mão esquerda de Marcelo,
como se fossem causadas por ação de defesa. “Na foto da perícia é
mostrada a mão dele como se o dedo estive no gatilho da arma, mas tem
manchas na palma e respingos de sangue incompatíveis com quem teria se
suicidado”.
Segundo a especialista, outra imagem que chamou a atenção dela foi que a
perícia não informou nos documentos porque a calça de Marcelo está
rasgada e com mancha de sangue. “O fato é que existe a possibilidade de o
verdadeiro assassino não ter sido investigado”, disse Roselle.
Caso o DHPP não investigue outros suspeitos e confirme o caso como
homicídio seguido de suicídio, a advogado pretende pedir a abertura de
um novo inquérito à Justiça.
O
G1 não localizou o delegado Itagiba Franco, da
divisão de homicídios do DHPP, e o promotor Daniel Tosta de Freitas, do
Ministério Público, para comentarem o assunto.
Segundo policiais do departamento de homicídios, o DHPP aguarda o
relatório sobre dez ligações telefônicas que Marcelo teria feito no dia
do crime para concluir o inquérito e relatá-lo. Assim que o caso chegar à
Promotoria, o promotor poderá pedir seu arquivamento à Justiça já que,
em tese, o assassino está morto.
A Promotoria recebeu recentemente um parecer do médico legista George
Sanguinetti, que teria sido feito por ele de maneira independente, sem
qualquer relação com os avós paternos de Marcelo.
O documento também contesta a perícia feita no caso e a tese da
investigação que culpa Marcelo. O especialista, que mora em Alagoas,
ficou conhecido após defender a tese de duplo assassinato do
ex-tesoureiro Paulo César Farias e sua namorada, Suzana Marcolino, em
1996, em Maceió.
Versão policial
A conclusão do DHPP de que Marcelo matou a família e se matou se baseia
ainda no laudo psiquiátrico sobre a personalidade do garoto de 13 anos
apontou que complicações de uma doença mental aliadas a fatores externos
o levaram a atirar no pai, o sargento das Rondas Tobias de Aguiar
(Rota), Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos; a mãe, a cabo Andréia Bovo
Pesseghini, de 36; a avó-materna Benedita de Oliveira Bovo, 67; e a
tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, 55. O documento foi feito pelo
psiquiatra forense Guido Palomba.
Depois, segundo a polícia, o adolescente dirigiu o carro da mãe até uma
rua próxima ao colégio onde estudava, dormiu dentro do veículo, e foi
para a aula. Lá, contou para os amigos que havia matado a família, mas
ninguém acreditou. Em seguida, voltou para a residência e se matou.
Todos foram mortos com tiros na cabeça.
De acordo com o exame psiquiátrico, o estudante sofria de uma
“encefalopatia hipóxica” (falta de oxigenação no cérebro) que o fez
desenvolver um "delírio encapsulado” (tinha ideias delirantes). E que
também foi influenciado por games violentos.
O laudo apontou que, no ano passado, esse quadro de delírios se agravou
quando Marcelo quis se tornar um justiceiro, um matador de aluguel de
corruptos, inspirado no game "Assassin’s Creed". Um mês antes dos
crimes, o estudante passou a usar a imagem do assassino do jogo no seu
perfil do
Facebook,
e começou a usar um capuz como o personagem Desmond Miles - um barman
que volta no tempo na pele de seus ancestrais. Com isso, encarna o
matador Altair e se envolve na guerra entre assassinos e templários ao
longo de diversos eventos históricos.