terça-feira, 12 de agosto de 2014

Cenários de tragédias, imóveis sofrem desvalorização e ficam encalhados por anos em São Paulo


Apartamento da família Nardoni ficou vazio por quase cinco anos

Marcella Franco, do R7
E se você descobrisse que, na sala da sua elegante cobertura, em um ponto entre o sofá e a mesa de jantar, um homem foi esquartejado anos atrás? Ou que, há poucos meses, antes da sua mudança para esse belo apartamento, uma criança foi atirada da janela do quarto onde hoje dorme seu filho pequeno? Você continuaria morando nesse lugar?
A maioria das pessoas, ao que parece, responderia “não”. Afinal, imóveis que foram cenários de crimes famosos na cidade de São Paulo costumam ficar encalhados ou fechados por anos a fio até que um novo morador apareça.
O apartamento da família Nardoni, por exemplo, palco da morte da menina Isabella em 2008, ficou vazio até o começo de 2013 por total falta de interessados. Na rua Cuba, no Jardim Europa, a casa onde Jorge Bouchabki e sua mulher foram mortos na véspera de Natal de 1988 permaneceu sem ninguém por 14 anos.
Para a diretora de comercialização do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi), Roseli Hernandes, a superstição e a crença de que os locais teriam "energias negativas" são as principais causas da dificuldade em vender essas propriedades. 
— São imóveis que sempre sofrem desvalorização. Em um primeiro momento, o preço cai muito, até 30%. Mas, com o passar dos anos, as pessoas vão se esquecendo daquele acontecimento, e aquilo tudo se apaga, fazendo o valor voltar ao normal.
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Segundo Roseli, ainda que se trate de um “fator apenas psicológico”, já que o histórico negativo não chega a ser um problema palpável que possa prejudicar os novos moradores, é recomendável que os corretores informem aos interessados sobre o que aconteceu naquele local.
— É nossa obrigação apontar características que possam dificultar a convivência da pessoa e de sua família em qualquer imóvel: feiras livres na rua, vizinhança etc. Em relação aos crimes, é uma questão relativa, principalmente porque não há danos graves que possam colocar em risco o uso pacífico da casa ou do apartamento. Então, cabe ao corretor decidir se informa ou não.
Obviamente, em situações envolvendo assassinatos que ficaram famosos, é pouco provável que um novo inquilino arremate o imóvel desconhecendo sua história. Mas, e no caso das mortes naturais, que acontecem todos os dias nas cidades grandes?
Com suas casas centenárias e prédios que datam de muitas décadas atrás, São Paulo torna-se uma cidade em que é praticamente impossível acessar o histórico completo de todos os antigos moradores de um imóvel.
Sendo assim, se fica difícil saber quem morou ali, por quanto tempo e em quais circunstâncias, é ainda mais improvável ter informações a respeito de óbitos que aconteceram naquele local.
De qualquer maneira, sendo célebres ou anônimas, as mortes nos imóveis podem, sim, ser motivo para que o novo morador peça seu dinheiro de volta, como explica a diretora do Secovi.
— Quando o inquilino entra na casa sem saber do que aconteceu, só descobre um tempo depois e então se sente lesado, pode pedir para desfazer a transação e até mesmo entrar na Justiça com um processo de perdas e danos.

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