quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Emoção marca 'minuto de barulho' em memória de vítimas da boate Kiss





Objetivo foi lembrar a alegria dos jovens, diz organizador da homenagem.
Centenas de pessoas se reuniram no dia que marca 1 mês da tragédia.



Familiares e amigos rezam Pai Nosso em homenagem às vítimas (Foto: Felipe Truda/G1)Familiares e amigos rezam Pai Nosso em homenagem às vítimas (Foto: Felipe Truda/G1)
Uma homenagem com muito barulho, abraços e emoção marcou a manhã desta quarta-feira (27) no Centro de Santa Maria, Região Central do Rio Grande do Sul. A ação, organizada pela Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria (AVTSM), reuniu centenas de pessoas para marcar um mês do incêndio na boate Kiss, que vitimou 239 jovens. Por volta das 7h muitos já se concentravam na Praça Saldanha Marinho. Às 8h foi a vez de aplausos e de buzinas de carros que passavam pelo local.
O barulho começou com os motoristas que passavam perto do local, pontualmente às 8h. Amigos, pais e parentes de vítimas começaram a aplaudir, e permaneceram por cerca de cinco minutos batendo palmas. Depois, ergueram as mãos para o alto e rezaram o Pai Nosso. Por volta das 8h30 o grupo começou a dispersar.
Centenas de pessoas se reuniram na praça para a homenagem (Foto: Felipe Truda/G1)Centenas de pessoas se reuniram na praça para
a homenagem (Foto: Felipe Truda/G1)
"Reunimos os pais para que cada um possa se dar um abraço carinhoso e lembrar da alegria dos nossos filhos, que eram jovens. Com certeza lá onde eles estão, porque eles não morreram, estão em uma outra dimensão, estão vendo e estão agradecidos com a nossa luta" declarou com olhos encharcados por lágrimas Adherbal Alves Ferreira, pai da vítima Jennefer Ferreira, 22 anos, e presidente da AVTSM. "Quero proporcionar a essas famílias que elas possam voltar a viver, a ter força", tentou seguir ele, interrompido pela emoção.
As pessoas vestiram camisetas brancas, muitas delas com fotos de vítimas da tragédia, carregavam faixas e cartazes com homenagens. A ideia inicial da organização era realizar um minuto de barulho, que foi estendido por mais alguns com a sequência dos aplausos. A alegria dos jovens foi lembrada em meio a lágrimas de saudade.
“Eles gostavam de fazer barulho. Vinham a esta praça e tocavam violão, conversavam e frequentavam um bar aqui perto. Todos, ou quase todos, vinham para o Centro. Era um ponto de encontro, e por isso é importante fazermos este barulho aqui”, conta a técnica contábil e estudante de Direito Cibele Facco, de 35 anos, que perdeu a filha Luana.
Cibele estava acompanhada do marido, o médico Pedro Oliveira, de 47 anos, padrasto da vítima, e da outra filha Luiza, de 12 anos. Pedro conta que antes de morrer, a jovem contava os dias para se mudar de Faxinal do Soturno, onde a família morava, para Santa Maria.
“Ela queria se mudar, e este ano vim trabalhar aqui. Ela estava ansiosa, nós dizíamos para ter calma. Ela fez cursinho para ingressar na faculdade e acabou não passando. Este ano ia passar”, lamenta.
Um dos idealizadores do ato, o vice-presidente do Conselho Diretor da AVTSM, Leo Becker, explicou os objetivos. “É uma homenagem aos filhos e um chamamento para que uma tragédia como esta jamais volte a acontecer em qualquer parte do mundo”, afirmou o pai de Érika Becker, vítima da tragédia.
Os turismólogos Oscar Pithan, de 46 anos, e Talita Heck, de 29, participaram do ato para homenagear os amigos João Aluisio Treuliebe e Larissa Holsbah, formados no Centro Universitário Franciscano (Unifra), onde também estudavam e faziam parte de um grupo de dança. Eles contam que também conheciam o músico Danilo Jaques, gaiteiro da banda Gurizada Fandangueira, e o estudante Alexandre Machado, o Xandinho.
“Tínhamos amigos que foram colegas nossos, e outros que trabalhavam na boate. Estávamos sempre juntos, fazíamos churrascos e festas. Depois de tudo isso, decidimos acabar com o grupo de dança, que foi onde todos nós nos conhecemos”, disse Talita.
Oscar considera o barulhaço a melhor forma de homenagear os amigos. “É uma maneira de relembrar eles como gostávamos de vê-los, alegres e animados”, conta.
Missas, caminhadas e atos de protesto também estão previstos
O grupo de parentes e amigos das vítimas também fará um ato ecumênico na Praça Saldanha Marinho. Uma salva de palmas também está prevista em frente ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Mas os organizadores pedem que o silêncio seja respeitado no Hospital de Caridade, onde quatro pessoas feridas no incêndio ainda seguem internadas.
Diversas outras homenagens também estão sendo preparadas em memória das vítimas em outros pontos de Santa Maria. A 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) solicitou às direções de 108 escolas do município que levem alunos e professores para o pátio às 8h, também para a salva de palmas.
Às 19h, uma caminhada deve percorrer o trajeto da Praça Saldanha Marinho até a Igreja Fátima, onde será celebrada uma missa. A manifestação batizada de “Sair do Luto e ir à Luta" convoca os participantes a vestirem roupas pretas e reivindica punição para os responsáveis pela tragédia. Às 20h, será realizada uma missa oficial, na Basílica da Medianeira. Celebrações e cultos de diferentes religiões também estão programados por toda a cidade.
Na segunda-feira (25) terminou o luto oficial de 30 dias decretado pela prefeitura de Santa Maria. Desde então, bares e casas noturnas da cidade, que concentra mais de 40 mil estudantes universitários, estão autorizados a abrirem as portas, desde que estejam com os alvarás e demais licenciamentos regularizados. Adherbal, no entanto, acredita que o luto na cidade vai permanecer por muito mais tempo.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sulx, deixou 239 mortos na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:

- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto

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