Em janeiro 1973, foi dito que Anatália Melo Alves se matou.
Segundo comissão estadual, ela foi torturada e morta por estrangulamento.
Reunião da Comissão Estadual da Verdade eclareceu a morte da jovem (Foto: Katherine Coutinho/G1)
A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara divulgou, na
manhã desta quinta-feira (14), os primeiros resultados sobre a morte da
jovem Anatália Melo Alves durante a ditadura militar. As investigações
da comissão desconstroem a versão da época, que dizia ter a jovem se
suícidado em janeiro de 1973, e comprovam que Anatália foi torturada e
morta por estrangulamento. O viúvo, Luiz Alves Neto, também esteve
presente na apresentação do caso nesta quinta.Apesar de ter sido dada como morta, o atestado de óbito de Anatália nunca foi entregue à família, tendo vindo à tona apenas durante as investigações, que começaram em agosto de 2012. "Aqui verifica-se, ao que tudo indica, um caso parecido com o de Vladmir Herzog. Um suposto suicídio foi utilizado para encobrir um homicídio, aqui ainda mais grave, visto que ela ainda por cima foi violentada", destaca o presidente da comissão, Fernando Coelho.
O viúvo Luiz Alves Neto esteve na reunião
(Foto: Katherine Coutinho/G1)
Relatora do caso, a professora Nadja Brayner detalhou as ações e os
documentos encontrados que comprovam a tese de que a jovem, na época com
28 anos, foi morta. As fotos do corpo foram encaminhadas à Diretoria de
Polícia Científica de Pernambuco. "O perito criminal José Zito Albino
Pimentel foi o responsável por esse laudo feito agora e aponta que a
vítima não foi morta por asfixia, como se afirmava no atestado de óbito
original, mas sim por estrangulamento, asfixia mecânica, devido aos
sulcos deixados. [...]Por fim, ele conclui que foi uma ação homicida",
explica a relatora.(Foto: Katherine Coutinho/G1)
Na época, afirmava-se que Anatália teria se suícidado e ateado fogo a si mesma, teoria contestada desde o começo pela comissão. "A fuligem e as marcas de queimadura foram encontradas apenas na região pubiana, ato para encobrir que ela havia sofrido violência sexual. Ninguém se suicida colocando fogo nessa região", aponta o presidente da comissão.
Os documentos encontrados durante as investigações dão conta também de que Anatália teria sido enterrada no Cemitério de Santo Amaro, em 5 de fevereiro de 1973. "Agora vamos encaminhar ofício para saber quando esse corpo foi exumado, a quem foram entregues os restos mortais. [...] Uma urna que teria os restos de Anatália foi entregue à família, mas com o aviso de nunca abrirem. Vamos solicitá-la para fazer o exame de DNA e, se não for ela, teremos aí mais um crime", destaca a relatora.
Foto de Anatalia que está no arquivo da Comissão
(Foto: Katherine Coutinho/G1)
Em outra sessão, o companheiro de Anatália relatou que a jovem tinha
sido algemada, submetida a torturas violentíssimas, que teriam sido
praticadas por quatro agentes. "Eu ainda me lembro de ouví-la gritando
por mim. Ouvi gritos de desespero, de dor", recorda Alves Neto. A
confirmação de que ela foi de fato assassinada e a localização de onde o
corpo foi enterrado ajudaram a acalmar o aposentado. "É uma
tranquilidade para a família. Enquanto a verdade não chega, você fica
pisando em falso", desabafa.(Foto: Katherine Coutinho/G1)
A comissão espera agora esclarecer os fatos restantes da morte de Anatália Melo Alves. "Iremos solicitar também um parecer do IML [Instituto Médico Legal, no Recife], para que possamos depois retificar o atestado de óbito e esclarecer que ela foi assassinada", aponta Nadja.
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