Para Richard Gott, presidente venezuelano morto nesta terça (5) era uma figura muito forte contra a qual ninguém poderia se opor sem resistência.
Na época, o colunista Paulo Francis - conhecido por sua ironia e virulência - apontou para a popularidade do golpe: "Este golpe militar na Venezuela é popularíssimo, é apoiado pelos estudantes, pela classe média, pelos intelectuais, e até militares de médio escalão estão brigando nas ruas. O presidente Carlos Andrés Pérez ficou mais sujo que pau de galinheiro quando arquitetou reformas estruturais na economia um plano com FMI e banqueiros para levar a Venezuela para o século XX. O povão bateu pé e não quis conversa."
O golpe fracassou e os líderes ficaram presos durante dois anos. Sete anos depois, em 1999, Hugo Chávez foi eleito presidente da República pela primeira vez. Já no juramento, no dia da posse, anunciou o que pretendia como presidente: "Juro diante de Deus, diante da Pátria, do meu povo, que sobre esta Constituição moribunda farei cumprir e impulsionarei as transformações democráticas necessárias para que a República Nova tenha uma Carta Magna adequada aos novos tempos".
Morte de Chávez
Durante 14 anos, o presidente Hugo Chávez governou a Venezuela com
força e autoridade. Mesmo longe do país, em tratamento contra o câncer
em Cuba,
continuou a comandar o governo enquanto a saúde permitiu. Conduziu uma
massa de venezuelanos, que nunca tinha se sentido representada.Graças a seu carisma reconhecido até pelos adversários, passou a ser mais do que admirado. Foi venerado pelas camadas mais pobres da população, conclamou os venezuelanos a abraçarem uma revolução que batizou de bolivariana, apelando para o nacionalismo e a imagem do herói da independência Simón Bolivar.
A seu favor, pode-se constatar que a qualidade de vida da maioria da população, quase toda de origem indígena, melhorou muito. Ele estendeu benefícios sociais e participação política a camadas sociais que nunca tinham sido ouvidas pela elite que por muito tempo dominou a Venezuela. Contra ele, os críticos argumentam que sua política social tinha objetivos de perpetuá-lo no poder e foi executada às custas de sério abalo à economia do país.
Em junho de 2011, Hugo Chávez faz primeiro discurso desde a internação em Cuba (Foto: Globo News)
“Hoje, estamos fechando um ciclo perverso que se abriu há mais de dez
anos, um processo perverso que foi chamado de ‘abertura petroleira’.
Hoje, nós enterramos a abertura petroleira aqui. A ‘abertura petroleira’
não foi mais do que uma tentativa de tirar definitivamente dos
venezuelanos sua maior riqueza natural. Não passou de uma tentativa do
imperialismo de se apoderar da maior reserva de petróleo do mundo”,
disse Chávez durante discurso em José Antonio Anzoátegui.E falou ainda sobre concessões públicas de televisão: “No dia 27 de maio, termina a concessão ao Canal 2, que pertenceu à oligarquia há mais de meio século. Recuperamos esse canal assim como recuperamos este imenso território e essas instalações para a pátria e para o povo, da mesma forma que recuperaremos o Canal 2 para que seja usado em benefício da nação”.
Seus adversários também argumentam que Chávez enfraqueceu as instituições, manipulou instrumentos da democracia para concentrar cada vez mais poder em suas mãos e ainda censurou os meios de comunicação.
Em outubro de 2012, ele venceu pela quarta vez a eleição presidencial, para governar por mais seis anos, mas não conseguiu tomar posse no dia 10 de janeiro. Estava doente demais. Assumiu Nicolás Maduro, o vice-presidente que o próprio Chávez nomeou.
Um admirador e defensor de Chávez é o historiador e jornalista britânico Richard Gott, que conheceu bem o líder venezuelano e escreveu a biografia dele. “Ele foi uma figura muito forte. Ninguém podia se opor a ele. Não havia nenhuma figura política que se comparasse a ele. Qualquer pessoa que fosse contra Chávez enfrentaria uma enorme resistência”, afirma.
Na economia, um paradoxo: um país que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo importa gasolina, resultado da falta de investimento nas refinarias, em particular, e na indústria, em geral. Nos últimos anos, a empresa estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) colecionou pobres resultados operacionais e acidentes que travaram o cumprimento das metas.
Atualmente, a empresa, responsável por 95% das divisas que entram no país, produz menos de três milhões de barris de petróleo por dia. “A dependência da Venezuela da venda de petróleo continua a mesma do período pré-Chávez. Não houve diversificação”, diz o historiador Rafael Araújo, que destaca que o maior legado do presidente são os programas sociais.
Na economia, os números realmente não são favoráveis a Hugo Chávez. mas quando se fala de redução da pobreza, os números mostram uma outra cara da Venezuela. Segundo um relatório da Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, a pobreza no país diminuiu 20,8% entre 2002 e 2010. Passou de 48,6% para 27,8%.
Repercussão no mundo
Na política externa, Chávez se aproximou de líderes que são considerados ditadores, como o do Irã, da Líbia e da Síria.
“Essencialmente, queria mudar o sistema internacional e fazer parte
dessas mudanças. Queria mostrar que os países mais pobres podem escolher
quem são seus amigos e aliados”, aponta Gott.As especulações sobre futuro da Venezuela e do chavismo surgiram de todos os lados assim que o presidente Hugo Chávez falou pela primeira vez sobre sua sucessão, clamando por unidade entre os aliados.
“Ele trouxe novos ares. Ele realmente achava que estava liderando uma revolução. Todas as instituições do Estado, antes de Chávez, tinham entrado em colapso. Não acho que ele se considerasse um governante autoritário. Acho que ele se via como um homem que introduziu reformas democráticas em um país em que as velhas instituições haviam fracassado”, afirma Gott
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